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Porto Velho,17/07/2025

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A música que toca o corpo: pessoas surdas também se beneficiam

Pesquisas mostram que as pessoas surdas, mesmo com perda auditiva profunda, processam as vibrações musicais


A música que toca o corpo: pessoas surdas também se beneficiam Mais do que som, a música é vibração, ritmo, linguagem do corpo / Foto: Freepik

Mesmo sem escutar como a maioria das pessoas, surdos também podem vivenciar a música — e se beneficiar dela. A ciência comprova que a música vai além da audição, alcançando o corpo por meio de vibrações sonoras que despertam emoções, estimulam o cérebro e favorecem o bem-estar.

Pesquisas mostram que as pessoas surdas, mesmo com perda auditiva profunda, processam as vibrações musicais em áreas do cérebro semelhantes às usadas por ouvintes para interpretar sons. É como se o corpo se tornasse uma antena sensível aos ritmos, frequências e pulsações.

Vibrações que o cérebro entende

Um estudo da Universidade McMaster, no Canadá, revelou que pessoas com surdez profunda reagem a vibrações musicais por meio de estímulos táteis, que são processados no córtex auditivo — região geralmente ativada por sons. Segundo a pesquisadora Laurel Trainor, que coordenou o estudo, “o cérebro de pessoas surdas pode adaptar-se e usar outras vias sensoriais para captar a música”.

Já na Universidade de Washington, o neurocientista David Eagleman desenvolveu um colete com sensores vibratórios que permite aos surdos "sentir" a música pelo corpo. Os resultados mostraram melhora na percepção emocional e na comunicação não verbal, indicando que a música não depende exclusivamente da audição para ser percebida.
Emoção e inclusão

A música ativa áreas do cérebro relacionadas à emoção, como o sistema límbico, mesmo em pessoas que não ouvem. Um estudo da Universidade de Helsinki (2019) demonstrou que crianças surdas que participaram de atividades musicais com base em vibração e movimento tiveram melhora na expressão emocional, interação social e atenção.

Essas descobertas sustentam a importância da música como ferramenta terapêutica e educativa, inclusive no trabalho com crianças e adultos autistas que também são surdos ou têm deficiência auditiva.

Corpo que sente, mente que responde

“Você não precisa ouvir a música para senti-la”, diz o músico e educador Sean Forbes, que é surdo e se apresenta profissionalmente usando vibrações, luzes e projeções visuais para criar experiências sensoriais completas. Forbes defende que a música deve ser acessível em múltiplos formatos, pois seu poder está também no que ela provoca no corpo e nas emoções.

Aplicações terapêuticas

Na musicoterapia vibracional, utilizada em algumas abordagens com pessoas autistas ou com deficiência múltipla, os instrumentos de percussão e os sons graves são aplicados diretamente no corpo ou no ambiente para produzir respostas físicas, motoras e emocionais. Os resultados observados incluem relaxamento, regulação emocional e melhora da consciência corporal.

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Musicoterapia (2021) relatou o uso de tambores e instrumentos de grave vibração com crianças surdas com autismo, evidenciando benefícios na autorregulação e no engajamento social.

A música está em todo lugar — até no silêncio

Mais do que som, a música é vibração, ritmo, linguagem do corpo. A ciência já provou: não é preciso ouvir para sentir os efeitos da música. O importante é tornar essa experiência acessível, sensível e inclusiva, respeitando os modos diversos de percepção que existem — e que têm tanto valor quanto a audição.

Fontes e referências:

    Trainor, L. J., et al. (2012). Activation of auditory cortex during vibrotactile stimulation in deaf individuals. McMaster Institute for Music and the Mind.

    Eagleman, D., et al. (2017). Sensory substitution and the future of perception. Baylor College of Medicine / University of Washington.

    Salmela, V. R., et al. (2019). Music perception and emotional processing in children with hearing loss. University of Helsinki.

    Forbes, S. (2020). Redefining sound: Making music accessible to the Deaf community. TEDx Talk.

    Rodrigues, D., & Silva, M. L. (2021). A música como recurso terapêutico com crianças surdas e autistas: um estudo de caso com percussão vibracional. Revista Brasileira de Musicoterapia, v. XX, n. 2.

    Gfeller, K., & Darrow, A. A. (2008). Music therapy for children with hearing loss. The Hearing Journal, 61(8), 42-46.




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