Barbeiro autista mascarado
Autista, desenhista, ex-hacker, músico e ex-acadêmico de enfermagem, ele soma talentos e cicatrizes, que o tornaram um símbolo de superação.

Na barbearia, a navalha é afiada e os cortes são estilosos e modernos — mas o que também chama atenção é a máscara. Não uma fantasia, mas um símbolo. Yakuza Moon, 39 anos, autista, artista visual, ex-hacker, músico e barbeiro profissional, carrega no rosto coberto o manifesto de quem nunca quis ser moldado. Ele é o candidato mascarado do campeonato nacional BWC Barber Fight Brasil, onde disputa uma vaga na Seleção Brasileira de Barbeiros.
Nesta entrevista, Yakuza, direto de Porto Alegre, fala sobre sua trajetória, a relação com o autismo, a barbearia como reinvenção e a máscara como bandeira.
Lucas Tatuy – Por que a máscara virou sua marca registrada?
Yakuza Moon – Durante muito tempo, eu usei uma máscara invisível. No universo autista, chamamos isso de masking — aquela tentativa silenciosa de se encaixar, de parecer “normal”, de camuflar os traços naturais para não ser rejeitado.
Mas hoje, escolho usar a máscara com intenção. Não por vergonha. Não por medo.
Mas como ativismo.
Lucas Tatuy – Usar uma máscara real não seria uma forma de se esconder?
Yakuza Moon – Não, no meu caso, não. A máscara que uso agora não esconde — revela. Ela é real e, ao mesmo tempo, simbólica. Passa uma mensagem, quebra padrões. Virou uma marca pessoal. Ela me protege, também, da exposição.
Gosto de manter reservado o meu eu sensível, autista, que tem um nome de
batizo. O Yakuza Moon é o barbeiro.
Por trás da máscara, qualquer um pode estar — e ser reconhecido não por um rosto, uma imagem, uma expressão... e sim pelo talento. Porque o que me define não é o que se vê. É o que entrego. E isso, sim, é extraordinário.
Lucas Tatuy – E como surgiu essa ideia de usar máscara?
Yakuza Moon – Veio como um pedido de socorro. Entrei no universo da barbearia e percebi que tudo ali exigia imagem, foto, exposição. Só que eu nunca gostei de câmera. Quando apareço numa foto, me sinto forçado, desconfortável.
Me mascarar é como se fosse um “jeito autista de sair na foto”, sabe? (risos)
Minha inspiração veio da cantora Sia, do guitarrista Buckethead, da banda Slipknot e também do filme V de Vingança — aquele personagem que tem uma força absurda, mesmo sem mostrar o rosto. Eu vi aquilo e pensei: “Por que eu não posso ser assim também?”. Hoje, tenho várias máscaras — literalmente e metaforicamente. E elas me dão liberdade.
Lucas Tatuy – Como você se sente quando mostra o rosto?
Yakuza Moon – Sem a máscara, sou mais um autista fazendo masking pra existir.
Com a máscara, eu viro o Yakuza Moon, o barbeiro autista.
Quando estou mascarado, não sou mais invisível. Chamo atenção, sim — mas por algo que construí.
Na barbearia, não uso no dia a dia. Só quando pedem uma foto. E aí vem o: “Ahhh, é você o barbeiro mascarado?” (risos). Depois que entendem o porquê, passam a respeitar mais. E também costumo ir a eventos mascarado.
Lucas Tatuy – E qual é a reação das pessoas quando você chega em um evento de máscara?
Yakuza Moon – Gera curiosidade. Chama atenção. As pessoas ficam me olhando e não entendem. Mas, nem me importo! A máscara me protege.
Lucas Tatuy – Quem é o Yakuza Moon por trás da máscara?
Yakuza Moon – Sou autista. Fui hacker aos 12 anos. Desenhista autodidata. Músico.
Cursei até o oitavo semestre de Enfermagem — com média 10 em todos os semestres. Tive que parar na pandemia, por falta de recursos. Foi nesse período que recebi o diagnóstico de autismo. E fiz testes de altas habilidades e descobri que sou superdotado. Também fui diagnosticado com síndrome do pânico e TDAH.
Lucas Tatuy – Como foi se descobrir autista após uma vida sem essa resposta?
Yakuza Moon – Eu entrei em depressão profunda, cheguei a cogitar o suicídio. Busquei
ajuda psicológica e no tratamento veio o rastreio do autismo. Um ano
depois, recebi o diagnóstico, em 2021. No começo, neguei. Tinha uma visão
distorcida do autismo. Eu não queria ser diferente, Queria gostar das mesmas músicas,
dos mesmos filmes que todos. Eu não me aceitava, e tinha raiva de
pensar diferente, porque queria ver o mundo como os outros veem.
Lucas Tatuy – Como você encara o autismo hoje?
Yakuza Moon – Eu passei a estudar sobre o autismo, me entender, me descobrir. A
socialização ainda é um desafio. Tenho dificuldade com certos tipos de conversa, não
gosto de futebol, e tenho uma apreciação restrita de música. Mas, eu me
desafio, encaro as minhas limitações e busco a superação. Hoje me aceito.
Lucas Tatuy – E como a barbearia entrou na sua vida?
Yakuza Moon – Sempre tive esse desejo, ai encontrei coragem e decidi tentar.
Tive minha formação na escola de barbeiros Amaral Academy Club, onde
encontrei acolhimento. Sou muito grato ao Amaral, que
enxergou o meu potencial. E ele fez as adaptações que eu precisava, como
redução de ruídos e luzes fortes. Isso fez toda a diferença. Em dois
meses, eu já estava auxiliando nas aulas. Em seis meses, me tornei
barbeiro profissional.
Lucas Tatuy – E você acabou montando sua própria barbearia...
Yakuza Moon – Sim. Quando dava aula na escola de Barbeiros, a gurizada gostava de cortar comigo. Ficavam felizes com diversos cortes e freestyle e penteados que eu fazia. As crianças serviam de modelo para a prática dos alunos, e também era uma forma de fazer um trabalho social, pois muitas delas não tinham condições de pagar um corte do momento. Ai fui ficando conhecido e veio a necessidade de montar a minha barbearia.
Lucas Tatuy – Antes de ser barbeiro, você já foi atleta, né?
Yakuza Moon – Sim, fui vice-campeão Cone Sul de Taekwondo e da Copa dos Campeões de Kung Fu. Mas hoje meu hiperfoco é a barbearia. Estudo muito.
Lucas Tatuy – Quais os seus pontos fortes como profissional?
Yakuza Moon – Tenho boa memória visual e aprendo rápido.
Observo um corte e já internalizo o processo. Domino cortes masculinos, femininos, design, tendências e técnicas de caneleiro. Os clientes gostam da atenção que dou e da forma como trabalho.
Lucas Tatuy – Você disse “técnicas de caneleiro”... Nunca ouvi. Pode traduzir?
Yakuza Moon – Sim, claro. Eu uso um lápis especial. Com ele, traço linhas finas, contornos, com precisão, nos designs de cabelo e barba — com a minha assinatura criativa.
Lucas Tatuy – E o que representa pra você disputar o BWC Barber Fight Brasil por uma vaga na Seleção Brasileira de Barbeiros?
Yakuza Moon – Representa mostrar que um autista pode competir em alto nível.
Autismo também pode estar no topo do pódio! E estar representando a comunidade já é uma vitória pra mim.
Lucas Tatuy – Sua capacidade artística acima da média te deixa em vantagem na competição?
Yakuza Moon – Não penso assim. É uma competição de alto nível. Tem outros excelentes profissionais competindo. Mas estou no páreo pra mostrar meu talento.
Lucas Tatuy – Como está sendo a recepção do público? Como votar em você?
Yakuza Moon – As pessoas estão me descobrindo aos poucos.
Tem muita gente votando, comentando, se identificando...
Pra votar é só entrar no Instagram @bwcbarberfight, procurar onde aparece “Yakuza” e clicar no meu nome.
É fácil achar o mascarado! (risos)
Cada voto é muito importante!
Lucas Tatuy – Yakuza... E pra quem ainda não se encontrou, como você se encontrou na barbearia, qual a sua mensagem?
Yakuza Moon – O mundo é cruel com quem é diferente. Mas existe lugar pra nós.
Pode demorar, pode doer, mas chega a hora. Só não podemos desistir antes — nem perder as oportunidades que surgem na nossa vida.
Para votar no Yakuza Moon, o Barbeiro Autista e Mascarado:
- Acesse: @bwcbarberfight no Instagram
- Vote @barber_autistic_yakuzamoon
- A votação segue até o fim de junho
Sobre o BWC BARBER FIGHT BRASIL
Um combate de alto nível entre barbeiros de todo o país.
Formato Copa:
• Combates diretos • Julgamento técnico e criativo
Tudo acontece no Instagram da @barberwarchampions
Os mais técnicos, criativos e ousados avançam. Os melhores conquistam vagas oficiais na Seleção Brasileira de Barbeiros!
Para votar no Yakuza Moon, o Barbeiro Autista:
Acesse o perfil @bwcbarberfight no Instagram
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