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Porto Velho,16/07/2025

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Autismo profundo. Podemos falar sobre isso?

Enquanto campanhas de conscientização muitas vezes adotam uma linguagem otimista ou inspiradora, esse retrato não corresponde à dura realidade de milhares de famílias.


Autismo profundo. Podemos falar sobre isso? Esses quadros exigem monitoramento constante / Imagem: Freepik

O autismo profundo, também chamado de autismo severo, é uma expressão
não oficial, mas cada vez mais usada por pesquisadores e cuidadores para
descrever indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), nível 3,
que necessitam de suporte intensivo.

Existe até uma data oficial voltada à esse tema: em 17 de março é celebrado o Dia da Conscientização sobre o Autismo Profundo, criado em 2023 por grupos de ativistas, familiares e profissionais que atuam com autistas com nível 3 de suporte, a fim de dar visibilidade a uma parcela da população autista muitas vezes esquecida ou invisibilizada.

 A iniciativa surgiu em contraponto à generalização e romantização do autismo nas redes sociais e campanhas públicas, que frequentemente ignoram os desafios vividos por pessoas que enfrentam o autismo em sua forma mais severa.

Segundo dados recentes do CDC (Centers for Disease Control and Prevention, EUA), cerca de 27% das pessoas com TEA se enquadram no nível 3, e boa parte desse grupo apresenta características do chamado autismo profundo, como:

- Ausência de fala funcional;
- Deficiência intelectual associada;
- Comportamentos auto e heteroagressivos,
- Destruição de patrimônios (móveis da casa);
- Crises intensas, colapso emocional, explosão de raiva;
- Baixa autonomia para atividades básicas da vida diária;
- Comportamentos sexuais desruptivos...

Não é tudo azul: o autismo tem muitas faces

Enquanto campanhas de conscientização muitas vezes adotam uma linguagem otimista ou inspiradora, esse retrato não corresponde à dura realidade de milhares de famílias. Romantizar o autismo pode levar à negação das dificuldades reais e à invisibilidade de quem vive com sobrecargas severas e sofrimento físico e psíquico, tanto o da pessoa autista quanto de seus cuidadores.

Quem tem autismo profundo pode apresentar grande sensibilidade sensorial, transtornos psiquiátricos associados (como epilepsia, TOD, TEI, TOC ou ansiedade severa), além de manifestar comportamentos autolesivos ou de fuga, colocando própria vida e as de seus cuidadores em risco. Esses quadros exigem monitoramento constante, equipes multidisciplinares e uma rede de apoio que quase nunca existe de forma adequada.

Funil da adolescência

Estudos apontam que, à medida que crianças com autismo profundo crescem, as oportunidades de tratamento vão diminuindo drasticamente. A maioria das clínicas e centros terapêuticos tem foco infantil, com infraestrutura voltada a crianças, e há escassez de profissionais capacitados para lidar com adolescentes e adultos não verbais ou com alta complexidade.

Isso cria um verdadeiro funil: quanto mais grave o caso, menos opções existem, e quanto mais velho o autista, mais invisível ele se torna. Famílias relatam longas filas para atendimento, portas fechadas e falta de profissionais dispostos a lidar com comportamentos-problema graves.

Enxergar a todos

O Dia do Autismo Profundo vem antes do Abril Azul, para conscientizar que o autismos tem outras faces. Nem tudo é azul.

Conscientizar-se sobre o autismo profundo é reconhecer que nem todos os autistas são gênios ou apenas “diferentes”. É admitir que, para muitos, viver com autismo significa lutar diariamente para comer, dormir, comunicar-se, ou simplesmente não se machucar.

Se queremos inclusão de verdade, políticas públicas eficazes e direitos igualitários, precisamos enxergar todos os autistas, em suas diferentes realidades, e ouvir até as vozes que não falam.





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