O dia 2 de abril é uma data simbólica e muito importante para a causa do autismo em todo o mundo. Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, o "World Autism Awareness Day" foi oficialmente traduzido no Brasil durante anos como "Dia Mundial de Conscientização do Autismo". No entanto, essa tradução literal acabou gerando um problema de interpretação.

Embora pareça apenas uma questão de linguagem, e que, inclusive passa despercebida até por pessoas atuantes da própria comunidade atípica, bem como por órgãos e entidades que aderem à campanha, dizer “...Conscientização do Autismo” sugere que o objetivo seria literalmente ‘conscientizar o autismo’, como se a condição em si pudesse ser convencida de algo.

Conscientização ‘do’ ou ‘sobre’ o autismo?

A expressão original em inglês, "Awareness of Autism", refere-se à sociedade sendo chamada a se conscientizar sobre a existência, os desafios e os direitos das pessoas autistas. Portanto, o mais correto seria usar o termo "Dia Internacional de Conscientização sobre o Autismo", pois é a sociedade que precisa ser conscientizada — e não o autismo.

Mudança no Brasil: quando e por quê

A mudança da nomenclatura começou a ser adotada oficialmente no Brasil a partir de 2023, quando o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, junto com órgãos e entidades representativas, passou a usar oficialmente a expressão "Dia Internacional de Conscientização sobre o Autismo", alinhando-se ao real propósito da ONU e ajustando o discurso institucional.

Essa reformulação teve como base não apenas uma questão de fidelidade à proposta original da ONU, mas também a pressão de ativistas e especialistas da área, que há anos apontavam a necessidade de termos mais claros e precisos.

Mesmo a comunidade atípica ainda se atrapalha

Apesar da mudança e da correção conceitual, é comum ver postagens, campanhas, materiais escolares e até eventos ainda se referindo ao “Dia Mundial de Conscientização do Autismo”. E o mais curioso é que esse erro não parte apenas da mídia ou do público em geral — muitas famílias, profissionais e até autistas continuam utilizando a terminologia antiga.

Palavras importam — e muito. Se a intenção da data é promover conscientização social sobre o autismo, é essencial que o próprio movimento atípico utilize termos mais adequados, de forma a tornar sua mensagem mais clara, coerente e acessível para todos. Como qualquer outra luta por direitos, o cuidado com a linguagem não é detalhe — é estratégia.

Afinal, conscientizar sobre o autismo começa com a forma como falamos sobre ele.