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Porto Velho,17/07/2025

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Mãe faz alerta sobre intoxicação hepática do filho associada ao risperidona

Estaríamos diante de uma solução terapêutica ou de uma ameaça?


Mãe faz alerta sobre intoxicação hepática do filho associada ao risperidona Segundo o relato da mãe, a criança começou a tomar o medicamento com 1 ano e 5 meses de idade

Uma mãe atípica fez um alerta no grupo da Comunidade Pró Autismo no
Facebook, sobre efeitos negativos no organismo do seu filho, que
estariam associados ao uso prolongado da risperidona. Ela é mãe de uma
menina de 5 anos, com autismo severo e não verbal, que desenvolveu
intoxicação hepática grave, que teria sido causado pelo uso prolongado da risperidona.

Risperidona é um antipsicótico aprovado pela ANVISA e pela FDA
(agência reguladora dos EUA) amplamente utilizado para tratar
determinados transtornos mentais, como esquizofrenia, transtorno bipolar
e determinados sintomas associados ao transtorno do espectro autista.
Pode representar um respiro para famílias que vivem em constante estado
de alerta.

No tratamento em autismo, os benefícios relatados são:
redução de comportamentos agressivos, melhora no sono, diminuição da
impulsividade. Em certos casos, ela permite que a criança ou o adulto
consiga ter um melhor aproveitamento das terapias, por apresentar
melhora na concentração.

Reações

Segundo
o relato da mãe, a criança começou a tomar o medicamento com 1 ano e 5
meses de idade e manteve o uso até os 5 anos. Nos últimos meses, passou a
apresentar agressividade intensa, insônia — além de comportamentos
autolesivos graves, chegando ao ponto de arrancar as próprias unhas.

Ela informou que exames clínicos indicaram danos hepáticos e que a
medicação foi imediatamente suspensa. Com um novo tratamento, "mudou 100%", segundo a mãe. "Minha filha está mais calma, dormindo bem e interagindo.”

A mãe lamenta que muitas das crises
comportamentais da filha estavam relacionadas à dor física que ela não
sabia verbalizar. “Se eu não tivesse levado para fazer os exames, íamos
descobrir tarde demais.”

O caso é um retrato do que
diversos estudos científicos vêm apontando: embora a risperidona seja
uma das medicações mais prescritas para pessoas autistas com
irritabilidade severa, ela pode causar efeitos adversos, sobretudo em
tratamentos prolongados sem monitoramento adequado.

O que dizem os estudos

Um
estudo de revisão publicado no Journal of Child and Adolescent
Psychopharmacology (2020), por Kim et al., avaliou os efeitos colaterais
da risperidona em crianças autistas. Embora tenha constatado melhora
nos sintomas de agressividade e irritabilidade, o estudo destacou que
efeitos metabólicos e endócrinos são frequentes — como aumento de
enzimas hepáticas, ganho de peso significativo, sedação e elevação da
prolactina.

Outro estudo de caso, publicado no World Journal of
Clinical Pediatrics (2017), por Alfayez et al., descreve uma criança de 4
anos com autismo que desenvolveu hepatotoxicidade aguda após seis meses
de uso da medicação, com reversão completa após a suspensão. Os autores
recomendam monitoramento periódico da função hepática em todos os
pacientes pediátricos em uso de risperidona.

E o Guia
Clínico do National Institute for Health and Care Excellence (NICE), do
Reino Unido, orienta que crianças e adolescentes em uso da risperidona
realizem exames regulares de sangue, com especial atenção para fígado,
peso, glicemia e perfil lipídico — especialmente em tratamentos que
ultrapassem seis meses.

Enquanto isso, em muitos consultórios médicos, o diagnóstico de autismo vem acompanhado de uma receita: risperidona. Afinal, o que justifica a prescrição quase automática desse antipsicótico para pessoas autistas — inclusive crianças? Estaríamos diante de uma solução terapêutica ou de uma ameaça?


Incorporação da Risperidona ao SUS


A risperidona foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2015, por meio da Portaria nº 18, de 23 de julho de 2015, publicada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), e é distribuída gratuitamente para o
tratamento de sintomas do autismo e de outros transtornos mentais, por meio dos Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) e da atenção farmacêutica básica, mediante
prescrição e laudo médico.

A decisão foi baseada na avaliação de estudos clínicos que demonstraram a eficácia do medicamento para tratar sintomas como irritabilidade, agressividade, impulsividade. A CONITEC considerou que, para casos em que esses comportamentos representam risco à integridade da pessoa autista ou da família, a risperidona pode ter benefício terapêutico relevante, desde que utilizada com acompanhamento médico e dentro de diretrizes clínicas.

No entanto, o relatório da CONITEC também reconhece os efeitos adversos importantes, como ganho de peso, sedação e alterações hormonais, reforçando que o medicamento não trata o autismo, apenas sintomas associados, e que deve ser prescrito com cautela, especialmente em crianças.


Outros efeitos

No uso prolongado, a risperidona pode causar ganho excessivo de peso, aumento de colesterol e glicemia, sedação intensa, tremores, disfunções hormonais (como a elevação da prolactina), impacto potencial no desenvolvimento neurológico, além de outras consequências.


Medicação aliada à intervenção

Especialistas debatem a medicalização precoce de crianças autistas, especialmente aquelas não verbais e alertam que é essencial combinar o uso de psicofármacos com intervenções multidisciplinares, avaliação clínica contínua e exames periódicos preventivos.

Para o psiquiatra infantil Dr. Bryan H. King, professor da Universidade de Washington e diretor do Seattle Children’s Autism Center, “a risperidona pode ser muito útil em alguns casos, mas é essencial que seja parte de um plano abrangente de tratamento. Não é um substituto para intervenções comportamentais e educacionais.” - (Fonte: entrevista à Autism Speaks e estudos publicados no Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry)

O uso precipitado do remédio pode ser reflexo de um sistema de saúde despreparado, que oferece o diagnóstico mas não assegura o acesso a terapias especializadas, suporte familiar, inclusão escolar e atendimento sensorial. É o que leva muitas famílias a sentirem que medicar é a única saída.




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