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Porto Velho,16/07/2025

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Número de autistas no Brasil divulgado pelo IBGE ainda está longe da realidade

Metodologia adotada pelo IBGE comprometeu a abrangência e a precisão do levantamento.


Número de autistas no Brasil divulgado pelo IBGE ainda está longe da realidade o Brasil pode ter ao menos 6 milhões de autistas invisíveis / Imagem: Freepik

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o número de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. Segundo os dados do Censo Demográfico 2022, 2,42 milhões de brasileiros relataram ter diagnóstico de autismo — o que corresponde a 1,2% da população.

Esta é a primeira vez na história que o Censo brasileiro inclui perguntas sobre o TEA, um avanço importante para visibilizar essa parcela da população, até então ignorada pelas estatísticas oficiais. No entanto, o número divulgado está longe de representar a realidade das famílias atípicas no Brasil. Isso porque a metodologia adotada pelo IBGE comprometeu a abrangência e a precisão do levantamento.


Perguntas sobre autismo foram feitas em apenas 11% dos domicílios

Segundo documentos oficiais do próprio IBGE, o questionário completo — que continha as perguntas sobre deficiência e autismo — foi aplicado em apenas cerca de 11% dos domicílios brasileiros. Ou seja, em 9 de cada 10 casas, ninguém foi perguntado se havia um autista ali.

“É como se minha filha não existisse”

Eliane Guatel, de Porto Velho (RO), mãe da adolescente autista Maria Eduarda, de 13 anos, com nível 3 de suporte. Ela relata que nenhum recenseador passou em sua casa durante a coleta. “É como se minha filha não existisse. A gente vive uma realidade cheia de desafios, e nem sequer somos contados. Isso machuca. A invisibilidade continua”, desabafa Eliane.

E como é feito em outros países?

- Em contraste, países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália adotam metodologias mais contínuas e integradas:

- EUA (CDC): monitoram crianças de 8 anos com base em registros clínicos, escolares e psicológicos. A última estimativa, de 2020, foi de 1 em cada 36 crianças com TEA (2,8%).

- Reino Unido: usa registros de saúde e censos integrados; estimou em 2021 que 2,2% da população adulta é autista.

- Austrália: inclui autismo no censo desde 2012; registrou 0,8% da população em 2021 com autismo, com base em autodeclaração e dados cruzados do sistema de apoio à deficiência.

O Brasil pode ter mais de 6 milhões de autistas

Um artigo publicado no canal Mundo Autista, estimou que, com base em estatísticas internacionais, o Brasil pode ter ao menos 6 milhões de autistas hoje — e esse número só tende a crescer.

“O cálculo é bem simples: se a prevalência nos Estados Unidos é de 2,8% da população de crianças de 8 anos (e entre adultos isso só pode aumentar com diagnósticos tardios), no Brasil o número pode ser semelhante, já que nenhuma evidência científica indica que a prevalência seja menor aqui”.

Com base na projeção populacional de 215,9 milhões de habitantes, 1 a cada 36 pessoas resulta em 5,997 milhões de autistas. A projeção é reforçada pelo neurocientista Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia em San Diego, que já declarou publicamente que a prevalência do autismo deve ser parecida em qualquer país, independentemente da cultura ou do IDH.

Dado inédito, mas ainda insuficiente

Apesar de trazer pela primeira vez um número oficial, os 2,4 milhões divulgados pelo IBGE podem estar muito aquém da realidade. Estudos internacionais apontam prevalências mais altas, e, no Brasil, há múltiplas barreiras ao diagnóstico — principalmente entre famílias de baixa renda, áreas rurais e regiões Norte e Nordeste.

Embora a inclusão do autismo no Censo 2022 represente um passo importante, o número final pode esconder mais do que revela. Aplicar perguntas sobre TEA em apenas uma parte da população já compromete a precisão. Soma-se a isso a dificuldade de diagnóstico em muitas regiões, o capacitismo institucional e o próprio estigma.

Enquanto países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália adotam sistemas contínuos e integrados de monitoramento, o Brasil optou por uma abordagem limitada e estatisticamente excludente. Perguntar sobre autismo em apenas uma a cada dez casas é o mesmo que perpetuar o silêncio — e manter invisível quem mais precisa ser visto.

A ausência de dados precisos tem implicações profundas: sem um retrato real da população autista, é impossível planejar políticas públicas efetivas, criar redes de cuidado adequadas ou mesmo garantir os direitos básicos da pessoa autista e de sua família atípica.




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