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Porto Velho,17/07/2025

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Permanecer na faculdade ainda é desafio para os autistas. "Pensei em desistir", conta Igor Valério

Embora a matrícula no ensino superior represente um avanço, a permanência exige medidas urgentes


Permanecer na faculdade ainda é desafio para os autistas. O apoio da mãe foi decisivo para que Igor seguisse adiante. / Foto: TRE-RO

O acesso ao ensino superior é desafiador para a maioria das pessoas autistas no Brasil. Mais do que conseguir uma vaga, permanecer e concluir o curso torna-se, muitas vezes, um obstáculo quase intransponível diante das dificuldades enfrentadas dentro do ambiente acadêmico — entre elas, a ausência de planos de ensino adaptados, as pressões por desempenho e os desafios na socialização.

Segundo os dados do Censo Demográfico de 2022, apenas 15,7% das pessoas com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) conseguiram concluir um curso superior, número abaixo dos 18,4% da população geral. A taxa é ainda mais alarmante quando se observa o quadro geral de pessoas com deficiência: só 7,4% têm diploma universitário, contra 19,5% entre quem não possui deficiência.

A história Igor Valério, autista e graduado em Direito, expõe essas barreiras. Ao participar de um bate papo no TRE de Rondônia, ele revelou que quase desistiu, diante das dificuldades que estava enfrentando na faculdade. “Eu não consegui avançar com a minha turma, acabei ficando pra trás, e pensei em desistir do curso”, relembra.

Para Igor, o maior desafio era conseguir acompanhar o ritmo da turma, em um ambiente que não oferecia adaptações específicas para suas necessidades. “A sensação era a de ter sempre que me encaixar num molde que não foi feito pra mim”, conta.

A pressão por desempenho, o excesso de estímulos e as exigências da vida universitária tornaram o processo ainda mais desgastante. E Igor ainda tinha que lidar com os desafios da socialização. “Eu me esforçava para entender algumas conversas e brincadeiras dos colegas”.

SUPERAÇÃO

O apoio da mãe foi decisivo para que ele seguisse adiante. “Ela me deu força, me lembrou do quanto eu já tinha avançado. Se não fosse por ela, talvez eu não tivesse terminado”, reconhece. Igor é servidor público. Já trabalhou no Detran de Rondônia e atualmente está no Procon de Porto Velho, na Defesa do Consumidor.

A experiência de Igor é apenas uma entre milhares de histórias que ilustram o abismo entre o direito formal à educação e a realidade vivida por autistas nas universidades brasileiras. Muitos outros, infelizmente, conseguiram iniciar um curso superior, mas não conseguiram concluir.

Embora a matrícula represente um avanço, a permanência exige medidas urgentes. A falta de acessibilidade pedagógica, o desconhecimento sobre o autismo por parte de professores e colegas, e a escassez de apoio psicológico comprometem diretamente o sucesso acadêmico dessas pessoas.

A trajetória de Igor, marcada por resistência e superação, é também um alerta: sem mudanças estruturais nas universidades e políticas públicas voltadas para a inclusão de pessoas neurodivergentes, a exclusão seguirá invisível — dentro das salas de aula.

DESISTÊNCIAS

Existem estudos e levantamentos recentes que abordam a desistência de autistas no ensino superior, embora ainda haja pouca produção científica com dados nacionais amplos sobre esse recorte específico no Brasil.

Pesquisa do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) – 2022 (Fonte: Projeto de Extensão "Neurodiversidade e Ensino Superior" – IFES, 2022).

Um estudo do IFES com estudantes autistas no ensino superior apontou que mais de 60% relataram dificuldades significativas para se manter na universidade, sendo que cerca de 30% consideravam desistir do curso em algum momento.

Os principais motivos relatados:

- Falta de acolhimento e compreensão por parte dos professores.
- Ausência de adaptação pedagógica.
- Sobrecarga emocional e sensorial.
- Dificuldade em interações sociais obrigatórias, como trabalhos em grupo.

Estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – 2020 (Fonte: Relatório do Programa de Apoio à Permanência Estudantil (PAPE/Unicamp), 2020).

Um mapeamento realizado pela Unicamp identificou que estudantes autistas têm índices de evasão superiores à média da universidade. O estudo destacou que:

- A falta de acessibilidade curricular e exigências sociais implícitas foram as principais causas de evasão.

- Muitos autistas entram por mérito acadêmico, mas não recebem o suporte necessário para continuar.




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